O Barquinho Amarelo

“O Barquinho Amarelo” faz uma ponte entre gerações, traz ao público brincadeiras, imagens e sonoridades da infância no interior, atravessada por aquilo que é original em todas as crianças de todas as épocas e de todos os lugares– o universo imaginativo! Utiliza rastreamento de movimento do elenco como motor para as projeções digitais interativas em uma proposição de teatro visual para a infância. Indicado para crianças a partir de 1 ano, conta com dramaturgia original inspirada no livro homônimo de Iêda Dias da Silva, referência na alfabetização de crianças em escolas públicas no Brasil nas décadas de 70, 80 e 90.

FICHA TÉCNICA
Direção: Leandro Maman. Elenco e Dramaturgia: Sandra Coelho e Leandro Maman. Direção de Arte: Sandra Coelho. Bonecos: João Freitas e Leandro Maman. Ambientação Sonora: Hedra Rockenbach. Técnico de Mídia: Otávio Barwinski. Figurinos e Cenário: o Grupo. Design de projeção: Leandro Maman. Execução de figurinos: Angela Borges. Assessoria de Imprensa: Prosa Cultural. Livremente inspirado no livro homônimo de Iêda Dias da Silva, ilustrado por Maria Augusta Roque da Silveira.

VIDEOCLIPE:
Filmagem: Ambar Audiovisual. Edição: Leandro Maman.

PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS / PREMIAÇÕES

– V Animaneco – Festival Internacional de Teatro de Bonecos. Joinville. 2023
– III Cena Itajaí. Itajaí. 2023
– VIII Festival Primeiro Olhar. Brasília. 2022
– Verão teatral AJOTE. Joinville. 2022
– Rede SESC de Teatros. 2022
– Ceart Aberto. UDESC.  2021
– Programação Digital SESC Ribeirão Preto. 2021
– Prêmio Arte Como Respiro – Artes Cênicas – Itaú Cultural. 2020
– Festival Rosa dos Ventos – FECATE – 2020
– 3º ANIMANECO – Festival de Teatro de Bonecos de Joinville. 2020
– Temporada no CCBB BH. Cena Criança. Belo Horizonte. 2020
– FIL – Festival Internacional de Intercâmbio de Linguagens. RJ. 2019
– 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul. 2019
– Temporada de Estreia em Julho de 2019 no SESC Itajaí
– Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Itajaí

FOTOS:

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Kamila Souza

Foto: Julian Cechinel

Foto: Julian Cechinel

Foto: Julian Cechinel

Foto: Julian Cechinel


I N S P I R A Ç Ã O :

Meu contato com o livro O Barquinho Amarelo aconteceu pela primeira vez em 1983, há 36 anos atrás. Eu morava com minha família no distrito rural de Pouso Redondo, interior do estado de SC e neste ano nos mudamos para o centro da cidade para que eu pudesse estudar, já que na localidade onde morávamos o acesso a escola era um tanto quanto difícil. Minha vida até então era de uma criança tímida, filha única de um casal de agricultores que vivia as voltas com os afazeres da vida no campo, entre animais, plantações, floresta, espaço, cheiros, sons, silêncios, noites profundas, mesas fartas, pé no chão, escaladas em árvores, riachos, histórias sobrenaturais, pequenas e grandes descobertas, geralmente solitárias.

Quando nos mudamos para a cidade, perdi grande parte dessa vivência na natureza. Embora Pouso Redondo nesta época fosse uma cidade muito pequena (ainda é!) não era nem de perto parecido com o sítio onde morávamos. Aos poucos fui me integrando, me adequando, conhecendo outras crianças, descobrindo outras brincadeiras e neste ano também entrei para a escola, no primeiro ano. Estudar era uma das coisas que eu mais queria quando criança, minha mãe me ensinou a ler e escrever antes dos 7 anos e eu sabia que na escola aprenderia mais, esperei muito por aquele momento, escolhemos juntas o material, a bolsa, a lancheira (que tenho até hoje), ela encapou os cadernos com papel e plástico para não estragar e lá fui eu no meu primeiro dia de aula. Era uma escola básica com apenas 2 salas de aulas e em cada sala haviam 2 turmas: primeiro e segundo ano (minha sala) e terceiro e quarto ano. Eu sentava bem no fundo por que era grandona e a professora nos colocava sentados em ordem de tamanho, tanto em sala quanto nas filas. Não era algo que me agradava muito mas possibilitava que eu não ficasse tão na vista da Dona Nair, e ficasse livre para prestar atenção nos conteúdos do segundo ano.

O Barquinho Amarelo foi meu primeiro livro de escola. Na verdade ele era emprestado aos alunos durante o ano letivo e deveria ser devolvido à escola em bom estado no final do ano. Sofri muito quando soube que teria de devolvê-lo pois o queria para sempre comigo, até cheguei a pedir para a professora se ela poderia abrir uma exceção e fazer uma doação para mim, mas não obtive sucesso.

A autora o chamou de pré-livro e até hoje eu não entendo muito bem essa denominação, já que ele tem todas as características de um livro inteiro, completo. Um pré-livro na minha cabeça nem seria um livro, talvez pudesse ser uma folha, um rascunho de livro, um projeto de livro ou talvez um livro em idade pueril. Não sei. Para mim O Barquinho Amarelo sempre foi um livro – o primeiro livro.

O que eu mais gostava nele eram as imagens e e as brincadeiras das crianças, Marcelo, Rosinha e Marquinho. De uma maneira inexplicada, uma pessoa fez um livro sobre a minha vida, ou sobre grande parte dela. A minha descoberta do mundo aconteceu através das brincadeiras com elementos da natureza, assim como os personagens do livro.

Anos me separam daquela primeira vivência. O livro é uma ponte que me conecta, é um caminho que percorro sempre que desejo voltar aquele tempo.

O desejo de fazer um trabalho inspirado nesta publicação, surgiu depois da montagem do nosso primeiro espetáculo para crianças, #Mergulho. O resultado foi tão gratificante que eu queria experimentar mais. Mergulho é uma palavra que serve bem e descreve com exatidão o que aconteceu comigo e com meu grupo depois que começamos a trabalhar com e para crianças: fomos capturados pela beleza deste universo.

Meus dois filhos pequenos também são uma grande fonte de inspiração. Através deles tenho a possibilidade de me reconectar com a criança que eu fui, e que de uma maneira diferente ainda é viva em mim.

Todas as infâncias podem ser maravilhosas. Quando atravesso a ponte e me desloco no tempo até minha infância, não faço comparativos com a infância de hoje. Existem diferenças abissais, mas a potência da poética desta idade é inerente a todos os seres em todas as épocas. Assim compreendo.

O Barquinho Amarelo é o primeiro livro de uma coleção que era distribuída pelo MEC no final da década de 70, anos 80 e 90, nas escolas públicas do País, seguido de Brinquedos da Noite (primeiro livro!), O Burrinho Alpinista (segundo livro), O Menino Azul (terceiro livro) e Bolhas de Sabão (quarto livro). Todos da mesma autora (com exceção dos últimos dois onde ela divide a autoria com Aciléia Carvalho).

Quando começamos a pesquisa que embasaria o trabalho, não encontramos dados sobre a editora que fez a publicação dos livros (já extinta), tampouco sobre a autora (que em 2009 encontrava-se bastante debilitada). Encontramos através das redes sociais, parentes da ilustradora do livro Maria Augusta Roque Silveira, que nos colocaram em contato com ela. Atualmente morando em Belo Horizonte, Maria Augusta nos seus quase 80 anos, me contou através do contato telefônico que tivemos sobre as ilustrações do livro. Ela fala do trabalho imenso que teve para fazer os desenhos, todos em tamanhos grandes (A3) e pintados em aquarela. Foi seu último trabalho como ilustradora. Depois disso, dedicou-se a outro tipo de trabalho na área burocrática. Recentemente entrou para um curso de desenho e pintura – como aluna.

O João que integra as cenas comigo no Barquinho, tem uma vivência semelhante a minha no que se refere aos seus primeiros anos: também viveu na área rural de uma cidade pequena do interior do estado, e vivenciou muitas arteirices da vida no campo.

Fazer teatro para crianças significa ir muito além do entretenimento. A criança é um ser em totalidade e precisa ser considerada desta maneira. Quando eu e meu grupo pensamos em arte para elas, pensamos necessariamente em um lugar de IMAGINAÇÃO, onde as cenas, o palco, os atores, a dramaturgia contenham um espaço para que ela comungue conosco daquela experiência, ou seja, participem ativamente de alguma maneira, seja contemplando, falando,sussurrando ou indo embora quando desejar.

O Barquinho Amarelo fala através de uma linguagem imagética e visual, utilizando de recursos audiovisuais. Fazer com que os atores e as crianças se relacionem com esses recursos de maneira poética, é uma forma de humanizar a tecnologia. E uma possibilidade de perceber que nenhum recurso é por si só, bom ou mau, mas depende da condição e capacidade de cada um fazer uso adequado do que possui.

O que move o Barquinho Amarelo é a vontade de viajar pelos caminhos do tempo – ontem e hoje. Pais e filhos, antigo e novo, orgânico e digital, água e continente. A arte não é algo estático. Tampouco a vida. Toda criança interior sobrevive aos passar dos anos. Se aloja dentro de cada um de nós e viaja no tempo, ora silenciosa, ora falante.

Desejamos que todos possam atravessar conosco a ponte do tempo, e conectar-se. Consigo mesmo e com outros navegantes dessa vida, sejam eles crianças ou adultos.

Boa viagem.

Sandra Coelho, Artista e idealizadora do projeto O Barquinho Amarelo.

BarquinhoAmarelo