Dia 30/05 apresentamos em Itajaí no calçadão Hercílio Luz a performance C.T.P.S., que ocorreu das 8 às 18h, primeira performance do projeto Normose. A pesquisa num âmbito geral, tem foco nas normoses ou ‘normatizações’ que fazem parte do nosso cotidiano, inseridas na cultura e entendidas como normais ou saudáveis. O termo Normose, de acordo com o filósofo francês Leloup seria um conjunto de normas, conceitos, valores, esteriótipos, hábitos de pensar ou agir aprovados por um consenso ou pela maioria de pessoas de uma determinada sociedade, que levam a sofrimentos, doenças e morte. Em outras palavras: que são patogênicas ou letais, executadas sem que seus autores e atores tenham consciência da natureza patológica.

Em C.T.P.S. dois performers (Sandra Coelho e Leandro Maman) ficaram completamente parados, sentados em cadeiras de escritório no centro da cidade. No chão havia marcações numéricas de hora em hora entre 09:00 e 18:00hs. A cada hora, os performers moviam a cadeira até o número seguinte. Às 12h aconteceu uma pausa para o almoço, onde os performers almoçaram na rua nas cadeiras de escritório. O ficar parado somente era interrompido por 3 ações: beber água, olhar a hora e ir ao banheiro.

A proposta do trabalho utiliza o princípio da “não ação”: “não-ação é uma ação sem intenção, uma ação não intencional. É uma ação que não pressupõe intenção, mas, nem por isso, representa o não agir. Ou seja, não-ação significa realizar as coisas com naturalidade, sem engenhosidade, sem excesso de predeterminação, sem especulação”. Trabalhamos com a metáfora do estar parado em contraponto com a necessidade constante do movimento.

O que mais chamou a atenção foi o incômodo gerado pela “não-ação”, a não aceitação do estar parado. Fomos abordados por pessoas e mais pessoas, que tentavam entender a situação, sem resposta dos performers. Chegamos a ouvir a frase de um transeunte “Não vão responder? Vão ficar parados? Posso fazer o que quiser então, até dar tapa na cara?”. As respostas geradas pelo ato de ficar parados foram diversas: “Escuta, sobre o que é o protesto mesmo?”; “acho que é propaganda de alguma coisa”; “é do dia do desafio, terminou semana passada, mas acho que alguma coisas ainda continuam”; “São do Pânico ou do CQC, vi eles filmando na cidade hoje”; “vocês estão meditando?”; “acho que é treinamento pra segurança”; um vendedor de uma loja próxima sentou com uma cadeira ao nosso lado – imitando a gente, porém não ficou muito tempo; além de fotos e fotos que tiravam com a gente. De maneira geral, o silêncio era sempre entendido como regra “aaa, não pode falar?”. Algumas pessoas procuravam respostas pro enigma: acho que é sobre o trabalho, “vocês estão falando da gente né?Do nosso dia-a-dia né?”, “olha só, acho que eles mudam cada vez que muda a hora, que horas são agora?”.

Aos poucos, a versão mais aceita do “enigma” começava a circular boca-a-boca, e quem perguntava já recebia respostas (não nossas): “eles estão aí desde as 9h”, e quando chegava perto da mudança de horário falavam “vai rodar, vai rodar”, ou avisavam: faltam quinze minutos…

No horário do almoço, almoçamos na rua, ainda nas cadeiras comendo marmitas em embalagens de alumínio. Nesse momento rompemos o silêncio e conversamos com as pessoas que vieram nos abordar, porém nossas respostas eram sempre devoluções de perguntas. Fomos abordados por transeuntes que não tinham visto a performance e cumprimentavam o fato de almoçar na rua, “vou fazer isso também”, além de pessoas que gostariam de entender a performance, desde vendedores de celulares, gari que trabalhava na rua, até o responsável pelo Marketing da associação dos lojistas. Uma senhora concluiu que era protesto contra as pessoas que não trabalhavam, e só enrolavam no emprego, outro senhor de bicicleta com sua senhora (que beijou a gente) parabenizou pelo protesto contra os engravatados, e um lojista perguntou se era do fato das pessoas não terem tempo pra nada, só pensarem em venda, não conseguirem parar nem almoçar direito. Cada um saiu com sua resposta.

Um dos momentos que mais chamou a atenção, foi quando um casal desenvolveu a teoria que, se eles empurrassem a gente até o número 18 ganhariam um prêmio. Isso gerou uma comoção de todos que estavam ao redor, ergueram os pés de Sandra, e empurraram sua cadeira até 18h. “Temos que empurrar ele também, senão não ganhamos o prêmio”. Depois empurraram Leandro até o número 18, em clima de comemoração. Porém nada aconteceu. Os dois performers continuaram parados. Em silêncio. Ao marcar 16h, ambos voltaram suas cadeiras até a marca “16”.

Próximo às 18h, o clima era de expectativa, lojistas levaram água para os performers e avisavam do passar dos minutos, um senhor de idade protegeu os performers de uma possível ameaçava de roubo dos paletós . Até que ao terminar à jornada, os performers foram saudados com palmas por uma platéia inesperada.

Abaixo algumas fotos registro da performance em Itajaí:

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