havia uma cena teatral
e um casamento real
que queriam ocupar
o mesmo espaçotempo

Ronin Luz e Sombra nasce na rua, um guerreiro sem mestre no confronto com seus fantasmas internos externalizados em monstro de luz projetados na parede de edifícios urbanos. Um guerreiro que não passa de corriqueiro estátua viva que se imobiliza para ganhar seu sustento. Parado, desafia o movimento. Mais do que errante, transcende seu erro ao confrontar sua sombra em forma de luz. A rua é transparente, e sem avisar a intervenção acontece e aglutina.

Quem é esse cara lutando com um monstro de luz na parede? Quem é esse cara que foge de helicópteros de luz na parede? Quem é esse preso na parede por grades de luz? Quem é esse que se liberta?

Pessoas em situação de moradia na rua vieram conversar com a gente: essa é a minha história. Verdade. A ficção é de verdade.

10 minutos habitou uma rodoviária, terminal de ônibus, espera. Tecido branco, TV, câmera, projeção e pedido de mensagens SMS para ampliar o tempo de vida da performance (sim, SMS) . Na rua a performance tem um tempo de vida, há os que passam e repassam e só acompanham flashes. Há os que ficam e assistem na íntegra. Há os que comentam e propagam a sua versão do que existiu na sua percepção da rua. Na rua ninguém é obrigado.

Na performance CTPS ficamos parados no centro da cidade em cadeiras de escritório. Nos movíamos de hora em hora nas marcas numéricas do chão que correspondiam ao horário comercial, das 8 da manhã às 18h da tarde. Uma faixa para cada hora. Os lojistas acompanhavam e comentavam na tentativa de entender um enigma. Um transeunte irritado com a não-movimentação nos ameaçou: “se eu der um tapa na cara de vocês, vocês se mexem?”. Ficar parado em meio ao espaço utilitário incomoda. Isso é falta de serviço! Um grupo de pessoas achou que deveriam nos carregar até as 18h para ganhar algum tipo de prêmio. Nos carregaram entre as marcas do tempo. Tentam trapacear Chronos. Mas ao ouvir a próxima badalada do sino da igreja voltamos à marcação do tempo presente. Vencer o cansaço de ficar parado. A ilusão do movimento enquanto salvação. Vencemos, às 18 horas os lojistas ficaram parados para ver o final de nossa jornada.

Uma mulher com mais do que longo vestido vermelho descasca maçãs em meio urbano. Em O Jardim de Abel vermelho é seu território, para entrar é preciso adentrar no espaço vestido que ocupa o chão. Ou observar de fora. Maçãs descascadas são oferecidas em momentos de conexão. Uma troca de alimento simbólico se estabelece.

Um grande espelho é carregado na rua. Parado emoldura o espaço urbano em seu Reflexo. Composição de corpo-objeto-espaço-reflexo. Espaço virtual criado em um plano bidimensional sustentado por um corpo. Refletir o espaço urbano, ir além do espaço urbano, mergulhar espelho e corpo vestido nas ondas mar. Praia na cidade.

No cinza da rua retorna o vermelho, uma mulher grávida preenche formas com serragem vermelha. Símbolos efêmeros, grafismo em pó do que já foi árvore. Agora vermelho preenche o espaço que já foi dele. Pau Brasil. Cidade e Alma.

O cinza também recebe o verde. Um homem descalço se move pela cidade com a premissa de somente pisar na grama. Carrega o próprio chão constituído de 10 blocos de grama que se movem um a um em caminho errante. O caminho se move em movimento lento. Muitos passos para andar 30 centímetros. Na chuva, o rastro é vermelho argila. O vermelho efêmero que mais uma vez ocupa a cidade. O peso é terra e água em lama. Na faixa de pedestres os carros esperam o lento caminhar de quem não ousa pisar no concreto. Por onde andei o semáforo já deixou de ser vermelho.

O tempo cidade avança, o que sucede os dias registra a paisagem tempo.

Deslocamento no espaço tempo.

Des lo car.

O vazio que carrego pesa nas costas. Um único corpo carrega centenas de garrafas de água vazias nas costas movendo grande bloco azul. Pandemia. Momento de se isolar. A performance solitária visita o interior. O registro fotográfico permanece na rede. Um sopro muda o objeto. Soprar inúmeras transparências vazias para fazer objeto de dança.